Entrevista com Edson
Brito, um dos coordenadores estaduais da campanha para a anulação
do impeachment de Dilma Roussef.
Cidadania e Reflexão entrevistou Edson Brito, um dos coordenadores do movimento pela anulação do impeachment, responsável conjuntamente com outros voluntários pela organização do movimento no Estado de São Paulo.
C.
R. - A primeira pergunta é qual sua função no movimento.
- Eu pertenço desde
o início ao comitê SP; sou um dos coordenadores de São Paulo. Tenho 58 anos. Não
existe função específica pois somos um movimento espontâneo. O
nosso objetivo é lutar contra o golpe. E lutar contra o golpe
significa anular o impeachment e restituir Dilma ao cargo
de presidenta. Pois ela já passou pelo crivo da votação. Foi
legitimamente eleita. E não reconduzí-la à presidência representa
naturalizar o golpe. Algo que o Brasil vem fazendo desde a
inauguração da república. Nos reunimos e deliberamos em conjunto
nossas ações.
C. R. - Qual o perfil das pessoas, incluindo profissão, dos que organizam
hoje o movimento?
- Trabalho no
controle aéreo, no aeroporto de guarulhos. O
movimento não existia, participávamos de todas as manifestações e
aos poucos fomos conhecendo pessoas que compartilhavam da mesma
ideia. E ai começamos a nos conhecer, trocamos ideias. E cada um
dos participantes trazia visão e contatos diferentes. Descobrimos o
PCO, que também batalha pela anulação do golpe. Pessoas de outros
estados e aos poucos fomos amadurecendo a ideia da criação de
comitês por localidades. Hoje temos grupos no RS, SC, SP, RJ, MG,
PE, CE, BA e DF. E alguns estados começam a montar seus comitês. Um
comitê é independente do outro, com estratégias próprias. Não
há uma figura que fale pelo Movimento Nacional ou que delibere de
forma exclusiva. No momento o que nos une de maneira prática é a
Ação Popular coletando as assinaturas.
C. R. - Pode-se dizer então
que o movimento é suprapartidário?
- Sim, com certeza
somos suprapartidários. Há pessoas de várias tendências. Unidos
pela derrotar do com o objetivo de derrotar o golpe. Uma grande
parte são de professores. Mas há pessoas de várias profissões.
Engenheiros, psicólogos, sociólogos, artistas, cozinheiros e por
ai vai...
C.R. - O que voce diria
sobre as consequências históricas de quebras de regras
institucionais?
- Bem, as
consequências depende muito do ponto de vista. Para o povo, sempre
foram nefastas. Tanto que somos uma das nações mais desiguais do
mundo. E toda vez que um governo tentou fazer algo (pela população) houve quebra das
regras. Getúlio 54, João Goulart 64 e agora Lula / Dilma 2016. A história
do Brasil é mal contada. Nunca estudamos a escravidão. Nunca
estudamos ditadura a fundo, enquanto Chile e Argentina pune seus
golpistas. No Brasil se auto anistiaram e ficou tudo por isso mesmo.
C.R. - É sabido que o movimento já se espalha por todo o país. Como anda
o movimento hoje? Quais as perspectivas? Qual o volume de assinaturas
coletado, por exemplo, diariamente?
- O movimento se
encontra numa ascendente. Muitas pessoas se dão conta do golpe e o
do objetivo dos golpistas. As maldades que estão fazendo contra a
população. Isso faz com que a compreensão do que está
acontecendo se tornem evidentes. A semana que vem faremos reunião
nacional e saberemos quanto temos de assinatura até o momento.
Geralmente fazemos reuniões via skype nas terças. Nosso comitê se
reúne aos domingos. C.R. - Como o grupo, ou
você, pessoalmente, sente o nível de conscientização política
do povo brasileiro e o que crê que poderia ser feito com relação
a isso?
- Estamos ativos a um
ano e meio, fazendo trabalho de formiguinha. Os grandes movimentos e
lideranças nunca levaram em consideração a possibilidade da
anulação e a volta da Dilma, tanto que, em várias pesquisas, so
haviam 3 opções: Temer fica, Indiretas e Diretas. A população,
quando falamos, fica surpresa com a possibilidade da anulação. Ou
seja, mesmo a esquerda não trabalhou com esse caminho. Preferiu as
Diretas. Só que agora começam a perceber que como em 65, não
haverá eleições. Principalmente com o Lula vivo e atuante.
C.R. - Depois da entrega
do projeto ao STF, o que o movimento pretenderia fazer? O grupo
continuará em contato entre si e continuarão a promover ações
políticas relacionadas a institucionalidade ou cidadania?
- Entregando a Ação
continuaremos mobilizados pressionando o STF para que julgue a
legalidade do impeachment, o mais rapidamente possível. O tempo
trabalha a favor do golpismo. Agora após o julgamento, não sabemos
depende do resultado e da disposição. O embrião de uma frente
popular surgida das lutas de pessoas comuns ficará ativa. Como se
dará então a luta só o tempo e as condições dirão.
- Até agora participamos de vários
e ninguém defendeu com saída a anulação do impeachment. Acho
interessante o confronto de ideias e caminhos. Toda a luta, quando
verdadeira, vale à pena. Estamos
organizando um dia D, estamos tentando promover vários eventos e
envolver o maior número possível de sites, jornalistas, blogueiros
e médias alternativas.
C.R. - Existe data
prevista para a entrega ou uma meta? Poderia passar da meta
estimada?
- Estabelecemos como
meta o dia 31 de agosto para as assinaturas, nada fechado, mas é
simbólico.
C.R. - Que mensagem final gostaria de deixar para o público de Cidadania e Reflexão?
- O que gostaria de declarar é que toda forma de luta é
válida. Pois assim como os golpistas nos atacam de vários lados
precisamos fazer os mesmo. Atacá-los em todos os seus redutos.
Existe a possibilidade do STF anular então vamos pressioná-los. O
executivo precisa ser combatido, assim como o congresso corrupto. A
Globo apoiou o golpe, então vamos golpeá-la também. O que não
pode é passar a mão, novamente, nos golpistas. Por isso entendemos
que a forma contundente de dizer não a usurpação é anulação do
impeachment e punição vigorosa dos golpistas. E mostrar aos
futuros aventureiros que no Brasil as coisas mudaram, podem tentar
derrubar o governo, mas haverá contrapartida.
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